Construção custou quase R$ 30 milhões e sua destinação ainda é debatida

Goianésia – Idealizado para ser um centro de referência no tratamento para dependentes químicos, o Centro Estadual de Referência e Excelência em Dependência Química (Credeq) de Goianésia foi inaugurado em 2018, no último ano da gestão do governador Marconi Perillo. Porém desde então, sua finalidade nunca foi alcançada. Isso porque, apesar de inaugurado, a unidade nunca entrou em funcionamento. Foram mais de R$ 28 milhões investidos na obra.

"Quando nós planejamos os Credeqs a preocupação era em ajudar as famílias mais pobres na recuperação da dependência química de seus filhos, seus familiares. Essa é uma política social comprometida com os mais pobres", disse o ex-governador Marconi Perillo. "Fizemos esse planejamento para construir não um 'depósito' de dependentes químicos, mas casas de recuperação que realmente tivessem um padrão mundial para acolhimento e devolução dessas pessoas para a sociedade", completa Perillo.

Na época, a estrutura contava com equipamentos modernos, espaços amplos e programados para receber com conforto e eficiência os pacientes. Hoje, toda essa estrutura dá espaço para mato alto, depredação, abandono e descaso com o dinheiro público. A unidade de Goianésia foi planejada para atender a macrorregião Centro-Norte de Goiás, composta por 60 municípios, com população estimada em mais de 1 milhão de pessoas.

"Só Goianésia já ocupa o Credeq inteiro. Então essa obra parada há muitos anos é um crime contra a cidade", disse o então prefeito do município, Jalles Fontoura. "É jogar dinheiro público no lixo quando as pessoas precisam. É o que está faltando nessa hora: honestidade com Goianésia", completa o ex-prefeito.

Em Aparecida de Goiânia, uma unidade do CREDEQ também foi inaugurada na gestão passada. Por lá, os atendimentos foram adiante e são referência. O gerente Multiprofissional da unidade, Marcus Tulio Balena, ressalta a importância de instalação de unidades, principalmente, em municípios do interior do Estado.

"Nem todas essas cidades tem uma rede de assistência a essas pessoas", diz ele, também se referindo a doenças mentais: "os municípios do interior têm dificuldade em manter uma rede de psicólogos e psiquiatras".

Atualmente, em Goianésia e na região, existe uma grande fila de espera para internação de dependentes químicos, que poderia ser suprida se o Credeq estivesse em funcionamento. Luciana Otoni, secretária municipal de saúde de Goianésia, frisa que as famílias enfrentam uma grande luta para conseguir tratamento pelo SUS aos familiares que são dependentes químicos.

"Hoje, somando toda a nossa demanda de pacientes que se internariam voluntariamente com aqueles que necessitam de internação compulsória, somamos aí quase 200 pacientes aguardando internação", diz Otoni, lembrando que esta demanda não é só de Goianésia, mas de toda a região. "Se o prédio estivesse em funcionamento seria um avanço gigantesco para os nossos pacientes e com os familiares, que sofrem muito", diz.

Com a situação de abandono do prédio do antigo Credeq, a população divide opiniões a respeito do que pode ser feito para solucionar o problema que se arrasta por cinco anos.

Em nota, o Governo de Goiás informou que o prédio continua sob a gestão da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) e que a "destinação do prédio ainda está sendo avaliada, dentro do contexto de investimentos e políticas de saúde pública que a atual gestão tem aplicado na área".