Iniciativa atende pacientes de baixa renda com a doença genética rara ou sistemicamente comprometidos

Goianésia – O projeto de extensão Odontologia Hospitalar da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás (FO-UFG), fará no próximo sábado (22/07) atendimentos odontológicos previamente agendados para pacientes com xeroderma pigmentoso (XP), doença genética não contagiosa que leva à grande sensibilidade à radiação solar. Está confirmada a vinda de 10 pessoas para receber tratamentos como raspagem, restauração, exodontias (extração de dentes) e prótese dentária. Os serviços serão realizados no Ambulatório 1 da FO-UFG, às 9 horas. O grupo reside no povoado de Araras, município de Faina (GO), a 209 quilômetros da capital.

A coordenadora do projeto, Francine Moreira, explica que os atendimentos serão feitos em Goiânia pois o município de Faina-GO, onde se localiza o povoado, não tem estrutura e nem profissionais adequados para atender os pacientes com XP. Segundo ela, as doenças bucais resultam no comprometimento sistêmico (paciente com uma ou mais doenças que prejudicam o funcionamento do corpo) e na baixa autoestima desses indivíduos. “É a primeira vez que a UFG irá atender esses pacientes e nós vamos oferecer o tratamento odontológico completo, além de avaliar as necessidades de prótese bucomaxilofacial para aqueles que retiraram algum tecido da face devido a algum tumor”, afirma.

A equipe de atendimento é formada por professores da FO-UFG, cirurgiões-dentistas voluntários e alunos pós-graduandos. Francine conta que as consultas são voltadas para o público de baixa renda, com comprometimento sistêmico ou doenças raras. “Nós realizamos atendimentos ambulatorial, hospitalar e domiciliar”, pontua a coordenadora.

No momento, o projeto, e consequentemente os pacientes, enfrentam o desafio da falta de um especialista em prótese bucomaxilofacial. Francine explica que quando há a necessidade deste serviço, a equipe se mobiliza para conseguir o material, mas que cabe ao paciente arcar com a mão de obra, pois em Goiás os profissionais desta área só atendem pela rede particular.

Xeroderma pigmentoso

Luciano Alberto de Castro, professor da FO-UFG, acompanha 17 indivíduos do povoado de Araras desde 2010. Ele explica que o xeroderma pigmentoso é uma doença rara que atinge 1 pessoa a cada 1 milhão de nascimentos no mundo. “É uma doença genética rara autossômica recessiva que atinge ambos os sexos e requer que tanto o pai quanto a mãe carreguem os genes da doença”, pontua. Segundo ele, a prevalência da enfermidade depende da cultura do local, pois sua manifestação genética está ligada a casamentos consanguíneos (união entre familiares). “Países do norte da África e o Paquistão têm uma prevalência considerável da doença. Aqui no Brasil, no povoado de Araras, situado no município de Faina-GO, a doença atinge 1 pessoa a cada 40 habitantes, destacando-se como a maior predominância da condição no mundo”, afirma o professor.

O município de Faina faz parte do Vale do Araguaia, região próxima ao Rio Araguaia que tem uma grande incidência de sol e poucas chuvas por ano. O povoado de Araras se localiza na zona rural, há 40 km da cidade, tem cerca de 800 habitantes e atualmente 19 tem xeroderma pigmentoso, segundo Luciano. Os indivíduos atingidos pela doença têm a pele sensível à radiação solar e são mais suscetíveis ao carcinoma espinocelular (câncer de pele). O professor conta que a principal atividade econômica do povoado é o trabalho em lavouras e devido a sensibilidade aos raios ultravioletas (UV), os portadores de XP foram aposentados por invalidez.

As principais consequências da exposição ao sol sem a proteção necessária é o aparecimento de tumores na pele e queilite actínica (fissuras e sangramentos, principalmente nos lábios, devido a exposição solar). Os cuidados obrigatórios para os portadores desta anomalia genética são: proteção solar com reaplicação a cada duas horas; roupas com defesa contra os raios UV; face shield; e pouca exposição à luz solar.