Influência dos personagens não impede a imaginação, a criatividade e o protagonismo das crianças na hora de brincar, avalia estudo da UFG

Goianésia – As brincadeiras infantis, além de serem um dos eixos da proposta curricular para a Educação Infantil, têm forte influência no desenvolvimento psíquico e social das crianças. Com isso em mente, a professora do Departamento de Educação Infantil do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae) da Universidade Federal de Goiás, Fernanda Caroline Nascimento, realizou uma pesquisa que investigou a influência de personagens midiáticos nas brincadeiras de faz de conta. A capacidade criativa e o protagonismo das crianças durante o processo de ressignificação dos personagens foram constatados pela pesquisa. O resultado do estudo pode ser acompanhado pelo endereço eletrônico "Eu já cresci um pouco e ainda quero crescer mais", onde também está disponível o livro literário com o mesmo nome, inspirado nas situações criadas pelas crianças.

Sob orientação da professora Moema Gomes Moraes e co-orientação da professora Elisabeth Cristina de Faria, a especialista em educação infantil foi a campo e observou crianças de até quatro anos em uma instituição de educação infantil no município de Santo Antônio de Goiás. O intuito era observar as brincadeiras que as crianças criavam enquanto manuseavam brinquedos que remetem aos personagens midiáticos. "Nós percebemos durante a elaboração das próprias crianças ali em campo que o conteúdo das brincadeiras que elas estavam criando remetiam as relações sociais e a organização da vida em sociedade", diz Fernanda.

De acordo com a professora, a criança adquire a capacidade de representar papéis sociais durante as brincadeiras de faz de conta mediante uma necessidade: a vontade de ser adulta. "A criança faz de conta porque ela começa a perceber algumas atividades laborais realizadas pelos adultos das quais ela ainda não tem possibilidade de realizar naquele momento devido à sua condição infante", afirma.

“O personagem midiático presente naquele momento do campo não foi um limitador para que a criança pudesse imaginar e criar, pelo contrário”, relata. Os personagens midiáticos serviram, segundo Fernanda, como objetos de incentivo à imaginação e protagonismo das crianças durante as brincadeiras. E, desta forma, o brincar de faz de conta teria grande relevância para o desenvolvimento psíquico infantil.

Como resultado de sua pesquisa de mestrado profissional vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica da Universidade Federal de Goiás, o livro literário “Eu já cresci um pouco e ainda quero crescer mais” foi lançado. A obra se baseou nas diversas situações criadas pelas crianças durante as brincadeiras em que utilizavam os personagens midiáticos. "O livro é sobre as diferentes vozes das crianças - que foram ditas, que foram exaltadas - durante suas representações no momento da coleta de dados”.

O livro está disponível de forma gratuita e a pedagoga conta que isso foi pensado para que todas as pessoas pudessem ter acesso ao conhecimento sobre a capacidade que as crianças têm de transformar, criar, imaginar e representar diferentes situações durante as brincadeiras.

Ela exemplifica com um caso em que uma das crianças observadas transformou uma televisão de papelão em um berço, um dos personagens midiáticos em um bebê e representou cenários que envolviam cuidado materno, o que demonstrou sua capacidade de ressignificar situações com os objetos, representando papéis sociais.

A pesquisadora afirma que, a partir dessas ressignificações, as crianças se apropriam das relações sociais humanas. "Isso exalta a importância da brincadeira de faz de conta na educação infantil. É uma forma de comprovar que, de fato, brincar contribui para o desenvolvimento da criança'', complementa.