Uma das espécies é inédita na América

Goianésia – Duas novas espécies de plantas foram encontradas pela primeira vez em solo goiano. Uma delas, inclusive, ainda não havia tido registro do gênero no Brasil e da espécie no continente americano. A identificação da Blumea axillaris, planta da família das margaridas, e da Pontederia reflexa, da família do aguapé, ocorreu por meio do trabalho de campo dos pesquisadores da UFG em parques de Goiânia, no setor Jaó. As amostras foram coletadas e serão depositadas no acervo do herbário da Universidade.

Natural de Madagascar e com ocorrência em áreas perturbadas de alguns países da Ásia e da África, a espécie Blumea axillaris, pertencente à família das margaridas e girassóis, foi coletada e registrada inicialmente em dois parques municipais, o Parque Maracanã e o Parque Liberdade. “A descoberta é muito interessante, pois se trata do primeiro registro da espécie para o continente americano e o primeiro do gênero Blumea para o Brasil”, afirma o professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, Aristônio Magalhães Teles.

Uma curiosidade é que se trata de uma espécie encontrada em populações pequenas e isoladas, que tem preferência por lugares úmidos e se comporta como invasora de áreas naturais, explica o professor. “E está começando a se estabelecer em solo brasileiro e pode trazer problemas futuros, uma vez que espécies exóticas invasoras constituem uma das principais ameaças à diversidade biológica”, afirma.

Já a espécie aquática Pontederia reflexa foi descrita pela primeira vez no ano de 2020 e seu habitat natural foi identificado como sendo os lagos e lagoas temporárias na América do Sul, no nordeste do Brasil (Ceará, Maranhão, Piauí) e Pantanal (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), além de Bolívia e Paraguai. Os pesquisadores da UFG encontraram a espécie em uma área brejosa no Parque Beija-flor, também no setor Jaó.

A espécie chamou atenção por suas flores alvas que se destacavam na vegetação. “O registro preenche uma lacuna no conhecimento sobre a distribuição geográfica da espécie e, agora, sabemos que ocorre também no domínio fitogeográfico do Cerrado, em Goiás”, observa o professor Aristônio.

A identificação das duas espécies de plantas em solo urbano goiano, de acordo com Aristônio Teles, demonstra “o quanto a flora urbana é negligenciada em estudos de flora e como essas áreas verdes desempenham um papel importante na conservação de espécies”. Goiânia é uma capital privilegiada nesse sentido. Comporta ao todo 42 parques, com áreas verdes e diversidade de flora ainda pouco explorada.

O motivo pelo qual os pesquisadores da UFG direcionaram o olhar e a investigação para os parques da capital foi, na verdade, a pretensão de encontrar saídas para as pesquisas de campo num cenário de cortes no orçamento da Universidade.

“Sempre trabalhamos com a flora nativa de áreas com formações vegetacionais naturais. Mas, por conta do corte de verbas para pesquisa na Universidade e a impossibilidade de viagens para expedições em áreas mais longínquas, terminamos por direcionar os nossos estudos para as áreas verdes urbanas”, conta o professor Aristônio Magalhães Teles. As atividades de ensino, pesquisa e extensão passaram, então, a ser direcionadas para os parques da capital, “muitos dos quais guardam o aspecto original da vegetação”.